terça-feira, 19 de abril de 2011

7ª Edição dos Colóquios de Minas dia 29 de Abril de 2011

Caros colegas venho lhes comunicar a ocorrência do 7ª edição dos Colóquios de Minas.  Como palavras da Professora Sílvia, "Esse evento, como é do conhecimento de muitos, é espaço de reflexão, discussão e troca de ideias sobre o ensino de Filosofia no nível médio."
Contamos com sua presença e participação.
cordial abraço, Sílvia Contaldo e Polyanne Merlyn

Apresentação de Comunicação no III Simpósio Internacional em Metafísica e Filosofia Contemporânea - Montes Claros

Iniciação à Docência: Mediação entre Filosofia e Educação


Paollyene Paulino Rodrigues
Aluna do curso de Filosofia da PUC MG

Polyanne Merlyn do Carmo
Aluna do curso de Filosofia da PUC MG


RESUMO:

A proposta desse trabalho é apresentar as linhas básicas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) que visa implementar ações para o progresso da educação básica. O objetivo é compreender a dinâmica das múltiplas realidades escolares relacionando-as à formação do docente, notamente ao desafio de ser professor nos dias atuais. Tendo em vista a necessidade de melhorias na qualidade da educação brasileira, o PIBID, guia-se pela interrogação, reflexão e ação. Buscando assim, propor novas formas de pensar e agir que contribuam para a formação do professor frente aos inúmeros desafios do mundo contemporâneo.


Palavras-Chave: PIBID, iniciação à docência, educação básica










Em Atenas, na Grécia Antiga, a Paidéia[1] consistia na formação universal do homem e no seu desenvolvimento como cidadão. A educação intelectual e o pensar filosófico prevaleciam possibilitando uma reflexão crítica sobre a realidade. Através de uma formação individual, interiorizada e contínua que visava o bem comum, o ethos grego estava inscrito no processo educativo que se estendia por toda a vida do cidadão, como instrumento básico para se chegar ao conhecimento teórico, permeando a dimensão da totalidade e sempre à procura do Bem Supremo.
A educação medieval apresentava matriz romano-cristã, devido à grande influência da Igreja durante a Idade Média. Com o surgimento da Cristandade houve transferências de saberes, o caminho que entrelaçava ratio et fides[2] (razão e fé), adotava como verdadeiro princípio o que representava a perfeição do ente divino. A ética aristotélica foi substituída por conceitos como redenção, pecado, sacrifício, deixando para trás a primazia da racionalidade que foi redescoberta anos mais tarde, com os iluministas.
A partir do século XVII com o advento da ciência moderna, a educação sofre grandes mudanças. Com visões quantitativas e juízos lógicos, houve renúncias às perspectivas de totalidade que prevaleciam nos séculos anteriores. A redução do “por quê?” ao “como?” representa a passagem da totalidade para a especialização. Os saberes humanistas perdem espaço para os saberes científicos. Filosofia e teologia são rejeitadas pelas correntes tecnicistas. A Idade Moderna preocupou-se com os assuntos do conhecer, voltada para discussão acerca da ciência, seja ela formal, natural ou humana.
 O homem pós-moderno, carregado de subjetivismo e liberdade, está diretamente ligado a processos individuais e racionais nas relações sociais. O sujeito é percebido como objeto ou mercadoria e está sempre à procura de algo, seja realização profissional ou intelectual. Com o aparecimento da racionalidade instrumental o conhecimento torna-se fragmentado, originando a particularização dos saberes e dificultando sua integração.
                                           
Analisando o conceito de Paidéia e possíveis contribuições para o ensino na contemporaneidade, percebemos como a educação na antiguidade se distingue consideravelmente dos dias atuais. A educação grega voltava-se para a teoria, desenvolvendo o intelecto e não para a prática profissional como hoje acontece. Considerando a situação histórica do ensino, percebemos como a visão de educação grega voltada para a cidade submergiu entre os séculos.
 Edgar Morin, na sua obra A Cabeça bem- feita: Repensar a Reforma, Reformar o Pensamento, aborda a complexidade do sistema educacional pensando nas possibilidades de mudança de paradigmas do ensino, evidenciando a emergência da reformulação de um pensar educador para o futuro. Em outra obra, Os sete saberes necessários à educação do futuro, afirma:



A situação é paradoxal sobre nossa terra. A comunicação triunfa, o planeta é atravessado de redes, fax, telefones celulares, modems, Internet. Entretanto, a incompreensão permanece geral. Sem dúvida, há importantes e múltiplos progressos da compreensão, mas o avanço da incompreensão parece ainda maior. (MORIN, 2005, p. 93).



Morin aponta que o grande problema é a hiperespecialização que “impede de ver o global (...) bem como o essencial (...)” (p. 13). Os saberes compartimentados entre as disciplinas impossibilitam a integração do todo, distanciando a interdisciplinaridade, que demanda uma troca indispensável de saberes e experiência entre áreas.
Como um dos pontos fundamentais do pensamento de Morin, a proposta do conceito de interdisciplinaridade é refletir as circunstâncias histórico-culturais que culminaram com o modelo de ensino vigente. A “expansão descontrolada do saber”, “a gigantesca proliferação de conhecimentos” e “os conhecimentos fragmentados”, confirmam, segundo o autor, a necessidade de repensar o pensamento e a sociedade.
Na concepção de Edgar Morin a tentativa é exercitar e estimular o emprego da inteligência como um todo para desenvolvimento da mente humana, que não se prende a nenhum campo específico do saber. Dessa forma, o entendimento do todo proporciona uma maior percepção do global. (MORIN, 2005, p.39-40)
Ao aumentar a produção de conhecimentos através de um novo pensar, crescem também as possibilidades de uma sociedade melhor para o todo. Morin escreve que “a reforma do ensino deve levar à reforma do pensamento, e a reforma do pensamento deve levar a reforma do ensino”. (MORIN, 2001, p. 20). A educação, segundo o autor, “deveria mostrar e ilustrar o destino multifacetado do humano [...] Assim, uma das vocações essenciais da educação do futuro será o exame e o estudo da complexidade humana”. (MORIN, 2005, p.61)
Essa reforma faz menção ao exercício de alteridade, despertada pela totalização do saber e ao desapego das ideias de estabilidade e permanência do sujeito pós-moderno. Explicita-se então que interdisciplinaridade é vista como uma tentativa de humanização do homem e de integração dos conhecimentos fragmentados pelo sistema[3].
O contexto histórico aponta as necessidades específicas e as mudanças nos modelos educacionais de cada época. No entanto, nosso sistema educacional, parece insistir em manter o caráter positivista, fragmentando os saberes e, consequentemente, privando nossos alunos de desenvolverem plenamente sua capacidade intuitiva e cognitiva. É claro que este sistema positivista foi importante numa época onde era necessário que as máquinas funcionassem a todo vapor, estimulando o crescimento de cidades e nações. Hoje, apesar deste modelo ultrapassado, o aparato educacional parece ignorar o produto de nossas escolas: indivíduos, sujeitos morais, que precisarão utilizar de forma prática os saberes que recebem nas escolas.
            Este é um quadro de violência, por mais sutil que nos apareça, pois desconsiderar as necessidades daqueles que vão à escola para “aprender”, julgando que o aluno não sabe o que precisa aprender é um primeiro passo para gerar a evasão escolar e o desinteresse pela escola. Para abolir esta forma de violência contra nossos futuros cidadãos, é necessária a integração de todas as partes envolvidas; não apenas uma integração de disciplinas, mas de interesses, iniciativas, expectativas, capacidades, professores, alunos e de todos que lutam por uma reforma nas escolas.
            A alteração do artigo 36 da Lei no 9.394[4], de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio impôs novos desafios e metas à educação brasileira. Portanto, é urgente pensar a formação do educador, com um exercício de pensar sobre o pensamento, análise, problematização  teorias e a práticas educacionais modernas.
Algumas Universidades em todo Brasil, como a PUC Minas, oferece para alunos em formação nas licenciaturas e aos professores que já atuam nas escolas públicas, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). O projeto ainda é recente em nossa instituição (a PUC Minas), mas revela-se como forte embrião para mudanças no contexto educacional brasileiro. Estas ações são referenciais e caminhos que almejam maior eficiência na formação de docentes e, por conseguinte alcançar melhorias no ensino básico.
Tendo em vista que nossos saberes se baseiam em grande parte em nossas experiências, conhecer a realidade da escola é fundamental para a prática do magistério.  Condição de iniciação à docência é pensar novos paradigmas. O grande desafio é articular os dois registros: academia e escola. Esta tarefa não é simples, principalmente se consideramos a especificidade e a existência problemática do ensino de Filosofia nas escolas de educação básica. O programa PIBID contribui para a interação desses espaços, dessas realidades que estão distantes, levando os futuros docentes para escolas, e os professores para a universidade. Assim acontece uma formação contínua de professores. Percebe-se que o relacionamento dos professores já atuando nas escolas de educação básica, escolas públicas, com os universitários produz um novo ânimo no papel do professor na contemporaneidade.
O plano de ação do PIBID utiliza diversas estratégicas para o aperfeiçoamento e avanços na educação, tendendo, sobretudo diminuir a violência no espaço escolar. Empregar reformas didáticas é um meio astucioso para alcançar condições favoráveis para os alunos e para os futuros docentes. Entre as ações previstas estão oficinas interdisciplinares, a produção de materiais didáticos, suporte para aulas futuras de ambas as partes envolvidas no programa, aproximação e efetivação das tecnologias e participações dos docentes em congressos, simpósios, contribuindo para o desenvolvimento e aprimoramento dos “aprendizes” bolsistas. ´
            Segundo Morin “a educação deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar um cidadão”. (2001, p.65). Nessa perspectiva o PIBID quer acompanhar a formação dos futuros docentes e propor caminhos na escola a formação humana dos cidadãos mediante aparatos educativos.
            Considerando-se a importância do conhecimento para o progresso da humanidade a Filosofia como disciplina e também como modo de atuar pensa nas possíveis saídas possibilitando trocas que afastam posturas dogmáticas tornando possível um novo pensamento. Por isso Morin afirma que “sabemos que não possuímos as chaves que abririam as portas de um futuro melhor. Não conhecemos o caminho a traçado.“El camino se hace al andar”.  Podemos, porém,  explicitar finalidades: a busca da hominização na humanização, pelo acesso à cidadania terrena” (2001, p115)
Procurando mostrar melhores expectativas para os futuros profissionais da educação, o projeto de iniciação á docência espera introduzir uma nova e criativa reflexão sobre a educação do século XXI. Tentando dialogar com as dúvidas e incertezas do nosso tempo, buscamos uma escola.
























REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



JAEGER, Werner, 1888-1961. Paidéia: A Formação do Homem Grego. Tradução Artur M. Parreira; [adaptação do texto para edição brasileira Mônica Stahel; revisão do texto grego Gilson César Cardoso de Souza] 4º. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MONDIN, Battista. O Humanismo filosófico de Tomás de Aquino. Tradução de Antônio Angonese. Bauru: EDUSC, 1998. (Coleção Essência)

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho 10ªed. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: UNESCO, 2005.

____________ A Cabeça bem-feita: Repensar a Reforma, Reformar o Pensamento. Tradução: Eloá Jacobina. 5º ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.




[1] Na pólis do séc. IV a.C. o conceito de Paidéia supera a vinculação limitada à instrução da criança. Trata-se de uma reflexão sobre a formação do homem para a vida racional na "pólis". Aplica-se à vida adulta, à formação e a cultura, à sociedade e ao universo espiritual da condição humana. A construção histórica deste mundo da cultura atinge o seu apogeu no momento em que se chega à idéia consciente de educação.  cf. JAEGER, Werner. Paidéia. São Paulo: Martins Fontes, 1986, p.244-246.
[2] cf.MONDIN, Batista. O Humanismo filosófico de Tomás de Aquino. Tradução de Antônio Angonese. Bauru: EDUSC, 1998. (Essência).

[3]  cf.MORIN. Edgar Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
[4] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.htm acessado em 01/04/2011.


                                                                                                             Polyanne - Pibid Filosofia Puc Minas